25 de out. de 2010

Estreia nesta sexta-feira, 29:



2 de out. de 2010

12 de set. de 2010

6 de jun. de 2010

Elenka

Coloquei ponto final provisório na primeira versão de Elenka, monólogo em um ato e quatro tapetes. Vinícius Piedade vai dirigir Telma Vieira na montagem.

Em teatro não existe texto definitivo, é verdade. Mandei para algumas pessoas queridas pedindo sugestões.

Eu próprio percebi algumas omissões. Nieve Matos já apontou um problema na dramaturgia. E é assim.

Um texto em teatro só pára de mudar quando a última apresentação dele é realizada. E se tiver nova montagem, será assim de novo, sucessivamente. Autor teatral é um operário de letras.

Trecho:

"Pensei nisso tudo quando ela foi embora. Pensei em meu fios entrelaçados e me perguntei se eu própria seria capaz de entrelaçar estes fios, qual tecido eu teria, quais bordados o adornariam."

Rua de mão única


Livros e putas podem-se levar para a cama. Livros e putas entrecruzam o tempo. Dominam a noite como o dia e o dia como a noite. Ao ver livros e putas ninguém diz que os minutos lhes são preciosos. Mas quem se deixa envolver mais de perto com eles, só então nota como têm pressa. Fazem contas, enquanto afundamos neles. Livros e putas têm entre si, desde sempre, um amor infeliz...

Livros e putas – raramente vê seu fim alguém que os possuiu. Costumam desaparecer antes de perecer...

Livros e putas gostam de voltar as costas quando se expõem. Livros e putas remoçam muito...


Walter Benjamim, Rua de mão única

31 de mai. de 2010

Trottoirs de Buenos Aires


Achei nestes cantos da internet o disco Trottoirs de Buenos Aires, são tangos de Julio Cortázar, na voz de Juan Cedron.

De todas as músicas já conhecia Java, porém na voz de Liliana Felipe.

Tentei achar o aúdio para colocar aqui, mas não deu. Reproduzo a poesia, a ficha e também dou o link para baixar a obra:


Java - Julio Cortázar

Nos quedaremos solos y será ya de noche.
Nos quedaremos solos mi almohada y mi silencio
y estará la ventana mirando inútilmente
los barcos y los puentes que enhebran sus agujas.
Yo diré: Ya es muy tarde.
No me contestarán ni mis guantes ni el peine,
solamente tu olor, tu perfume olvidado
como una carta puesta boca abajo en la mesa.
Morderé una manzana fumaré un cigarrillo
viendo bajar los cuernos de la noche medusa
su vasto caracol forrado en terciopelo.
Y diré: Ya es de noche
y estaremos de acuerdo, oh muebles oh ceniza
con el organillero que remonta en la esquina
los tristes esqueletos de un pez y una amapola.
C'est la java de celui qui s'en va-
Es justo, corazón, la canta el que se queda,
la canta el que se queda para cuidar la casa.


Trottoirs de Buenos Aires

Tangos de Edgardo Cantón y Julio Cortázar, cantados por Juan Cedrón

Medianoche, aquí 4'14
Guante Azul 3'16
Tu piel bajo la luna 4'10
Tras su rastro 5'20
Veredas de Buenos Aires 2'52
El Buscador 3'32
Java 3'18
La camarada 3'00
Paso y quiero 3'09
La Cruz Del Sur 3'09

Grabado en París, estudio ADAM, 1980
Polydor

Reeditado en CD en 1995
Remasterización: estudio ADAM, 1995
Fabricado por EPSA
GOTAN 1995

http://rapidshare.com/files/7481252/06_Trottoirs_de_Buenos_Aires.zip

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12 de abr. de 2010

Karl

Depois dos outros, ela retirou o poster com o Manifesto Comunista (aquele onde surge a cara de Karl entre as letras) de minha parede e disse que era cafona. Eu coloquei de volta, respondi que era cafona mas era meu, e que eu também pertencia à fauna dos cafonas, e, portanto, permitir que o poster fosse embora seria abrir precedentes para minha expulsão no futuro. O poster do Karl ficou, mas não é mais o mesmo. Seu rosto desenhado entre as letras parece perguntar algo estranho, alheio a entendimentos.



6 de abr. de 2010

Sobre anjos e coxinha

Um homem de idéias firmes, eu sou. Se é para sair de Vitória e deixar o bom e velho Cochicho da Penha, de atendimento excêntrico e coxinha como rainha do cardápio, vou para Ouro Preto e freqüento o Barroco, de atendimento excêntrico e coxinha no mesmo patamar.

Os dois bares são bem freqüentados, mas na semana passada, sábado de aleluia, o Barroco superou o Cochicho. Estávamos bebendo todas quando entrou pela porta um anjinho de cabelos compridos, com tudo que anjo tem direito, da asa à auréola. Pensei que a culpa era da maldita cachaça que usam para fazer o cachamel, mas eu só tinha tomado cerveja até aquela hora. O anjo flutuou entre todos aqueles bêbados e foi até o balcão, entregou o dinheiro enroladinho para o próprio Barroco (o Seu Geraldo de lá) que rapidamente serviu a coxinha. Comeu ali mesmo, como se fosse ambrosia (e era), depois saiu flutuando, da mesma forma que entrou. Eu refleti alguns segundos sobre aquilo, quase um minuto. Daí desisti de entender o sagrado e suas núpcias com o profano, pedi uma merecida cachaça.

25 de mar. de 2010

micro-dossiê

Pediram micro-dossiê para constar numa coletânea de contos. Só consegui escrever este até o momento:


Saulo Ribeiro (Vila Velha, Pedro Canário, Vitória – ES, 1977), também conhecido como Saulim de Seu Nelson, começou sua arte no papel ainda criança, fazendo aviãozinho nas aulas de português e matemática. Resultado: até os 20 anos era completo analfabeto. Aos 30 conseguiu escrever mais de uma página, sempre de péssima literatura. A sua rendeção veio com a aquisição de um bichinho, doado por uma loja de animais: o bichano Cruel. Cruel costuma escrever contos, romances e dramaturgia e como a lei, doutrina ou jurisprudência não reconhecem felinos como autores, apropria-se vergonhosamente dos textos, alegando que o valor arrecadado é direcionado ao sustento do cat, nunca deixando, é claro, de reclamar do preço exorbitante da ração, atum, areia e internet (Cruel adora twittar e não vive sem o google). De uns tempos pra cá, Cruel passa o dia todo na janela e quando está entre as pessoas fica calado num gesto blasé. Ontem pediu um dicionário de rimas. Perdeu o atum.



16 de mar. de 2010

Prêmio Ufes de literatura


E o Prêmio Ufes de literatura divulgou resultado. Estou lá, na categoria contos. O livro com as obras vencedoras deve sair ainda este ano, pela Edufes (Editora da Ufes).

Ano passado fui premiado com romance Ponto Morto no edital da Secult. E agora esta surpresa nos contos.

Acho que vou mesmo abandonar a dramaturgia em nome da prosa. Mas pode deixar, Vini. Eu te pago Elenka antes.


Resultado completo aqui

21 de fev. de 2010

Um diálogo

“Somente os ganhos ilícitos proporcionados pela organização criminosa, notadamente a participação nos ganhos proporcionados pelos cartórios, poderia permitir à juíza a nababesca vida de frivolidades documentada nas colunas sociais da imprensa da província”

(De uma Denúncia do MPF sobre recente escândalo envolvendo parte do judiciário de Maracajaguaçu)


Seguindo uma vocação de Hiena, ri muito ao ler isso. Resolvi então imaginar um diálogo.


PROCURADOR - Já conhecemos sua vida nababesca.

JUÍZA (Aprovada em concurso deus sabe como, e sabe mesmo): A minha vida sexual não está em discussão aqui, senhor Procurador.

PROCURADOR (Ri) : Refiro-me à sua nababesca vida de frivolidades.

JUÍZA (Ultrajada): O senhor está penetrando minhas intimidades de forma odiosa. Sempre gozei direitinho, nunca fui frívola.

PROCURADOR (Quase perdendo a paciência): Não sei sobre sua vida sexual, senhora. Estou falando de vosso faustoso cotidiano.

JUÍZA (Como se respondesse a um completo imbecil): Que absurdo, tampouco vejo o programa deste senhor aos domingos. Salvo a dança dos famosos, que considero um divertimento sadio.

PROCURADOR (Perdendo a paciência): Eu falo de sua vida de luxos e festas incompatíveis com os seus rendimentos.

JUÍZA (Tranqüila) : E como o senhor vai provar isso?

PROCURADOR: Está tudo documentado nas colunas sociais da imprensa da província.

JUÍZA: Oh, meu deus! E ainda chama o Célio Glória e o Patrício Garfes de provincianos! Só falta incluí-los na denúncia.

PROCURADOR: Como diria aquele poeta das massa, cara senhora: "Se gritar pega ladrão..."

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16 de fev. de 2010

Terça-Feira


Minha terça-feira já é de cinzas. Na quarta restará menos que o pó. E tudo sem bebida e excessos. Céus!

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Site da Editora Cousa de novo no ar, agora no endereço

www.editoracousa.com.br

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5 de fev. de 2010

Gillespie e Paulinho da Costa



Dei para Seu Geraldo, do Cochicho, uma cópia do Bahiana, disco do Dizzy Gillespie que baixei na internet. Isso foi no ano passado, primeiro semestre.


Seu Geraldo tem ouvido, tanto no bar quanto no lar, e na semana passada, da penumbra do balcão, perguntou se eu sabia quem estava tocando com Dizzy. Eu não sabia. Ele apostou:


- É brasileiro. Americano num faz aquele tipo de quebra saindo do jazz pro choro não.


Eu, que nada entendo de jazz, pesquisei hoje no Google. É brasileiro mesmo. O carioca Paulinho da Costa. Um a zero pro Geraldo.


Em oportunidade, aquele bar novo que fica em frente à mesa que gosto de sentar no Cochicho tá colocando o som tão alto que tem conseguido tirar minha paz. Numa hora dessas eu explodo em ira, faço uma besteira, e vou parar nas páginas policiais.



30 de jan. de 2010

Curtas da semana

> Depois de uma geral em várias especialidades médicas descobri que tenho 32 anos, mas com saúde de 82.


> Releituras de João Antônio. Tô me lixando pra quem me acusar de ufanismo, mas que Malagueta, Perus e Bacanaço dá orgulho de ser brasileiro, isso dá.


> Médicos: Cortei o açúcar. Agora querem meu álcool. O que pedirão no futuro?


> Lendo Inominável, de Samuel Becket. O conflito de não ser e falar por temor do silêncio. Vale cada frase.


> 1

Ele - Se você quiser eu posso fingir que não te conheço.

Ela - Não. Pode continuar fingindo que me conhece mesmo.


> 2

- Deusleni, não acho o Manifesto Comunista!

- Lado direito do livro do padre Fábio, patrão. Na mesma estante da biografia do Lula.

- Mas esse é o Kama Sutra, Deusleni!

- Tá bem servido, patrão. Foda pro fodido!



26 de jan. de 2010

Solo com Vinícius Piedade acontece no Teatro Nelson Rodrigues - Guarulhos

"Nos dias 5 e 6 de fevereiro, às 20 horas, o Teatro Nelson Rodrigues abre espaço para o monólogo Cárcere, com Vinícius Piedade. Com texto de Vinícius Piedade e Saulo Ribeiro, o espetáculo é indicado para maiores de 14 anos. As apresentações contam com apoio da Secretaria de Cultura de Guarulhos. Os ingressos estarão à venda na bilheteria do local, uma hora antes da exibição. (...)"


Leia matéria integral nos links:

Guarulhos Agora

Prefeitura de Guarulhos

21 de jan. de 2010

2009

Tempão sem escrever aqui. Desde dezembro minha vida tem sido de sufoco ou paz, sem meio termo. Ou trabalho muito ou não faço porra nenhuma. Gosto assim. Mas tenho ficado meio de saco cheio desta vida de produtor cultural. Tudo tem dado certo, mas acabo lidando com coisas que detesto. Penso em me dedicar somente ao projetos editoriais a partir do segundo semestre, pois a Cousa sim tá dando vontade criar, fazer, vislumbrar loucuras, assim... A despeito disto, tenho deixado o Caldeira, sóciomajoritário-fundador-editor da Cousa, meio que puto com minhas ausências (Vou melhorar, bicho. Mas a cartada desta tarde foi boa, né?).


Hoje eu tinha que escrever. Ocorre que não fiz minha retrospectiva 2009. Vou fazer agora, fora de época. Com uma vintena de dias capazes de fornecer certa segurança de que os últimos acontecimentos do ano de 2009 não deram merda. E não deram mesmo. Estranho isso, do mundo desabar (literalmente) e tudo parecer tão calmo na minha vida. Não que não sofra com as tragédias mundiais, mas os jornais cuidam para que a miséria seja apenas mais um espetáculo, apenas a despedida de uma filha da classe média alta ou declarações vagas de chefes de Estado em camas macias.


Penso nos anos em que o mundo parecia se acalmar enquanto eu afundava mais na lama. Uma hora o jogo vira, sempre vira, mas acho que estou pronto para o filhodaputa.


2009 foi um ano bacana pra mim. Acordei com uma contemplação na lei Rubem Braga para colocar o Peroás e Caramurus na rua. Colocamos em dezembro, dizendo pro povo da saga azul e verde que coloriu nossas ruas por quase um século. O texto, escrito com Nieve Matos, tem pouco a ver com o que eu costumo escrever, mas acredito que foi um tributo e reconciliação com minha formação acadêmica no velho e “bom” curso de História da Ufes, onde conheci gente que tá na minha vida até hoje (hermanos vagabundos).


Depois veio o maluco do Alexandre Serafini, cineasta, produtor, vagabundo, pinguço, arruaceiro, milagreiro, maratonista seguindo bunda, e, apesar disto - ou sobretudo por isto - um cara legal. O maluco queria que a gente escrevesse um roteiro de curta-metragem. Escrevemos juntos o “2500”, deve estrear agora em março. Nas filmagens conheci muita gente bacana, que sem precisar ligar e chamar para tomar uma cerveja sentimos como “nossa”, amizade.


E seguimos. Cárcere, solo cênico do meu grande amigo e irmão Vinícius Piedade, cujo texto tem meu dígito ao lado do dele, foi aprovado no projeto de circulação de espetáculos teatrais da Secretaria Estadual de Cultura – Secult, passando por Mimoso do Sul, Viana, Vila Velha, Pancas, Barra de São Francisco e Nova Venécia. Casa lotada quase sempre e gente nos tratando muito melhor do merecíamos (falo por mim). E viajamos com gente de primeira: Adriana Sipolatti, nossa produtora local, capaz de explicar o inexplicável; Overlan, nosso mestre da elétrica e eletrônica, cheio de fãs no interior; e Nieve, minha esposa chefona.


Cárcere rendeu um livro e, quem sabe, a história para um livro no futuro. Foi a obra que Rodrigo Caldeira escolheu para iniciar a Editora Cousa, que neste mesmo ano, em dezembro, lançaria o livro de poesias explosivo de Danilo Ferraz, A Fábrica. Vejamos: dois livros em quatro meses, dramaturgia e poesia... Nada mal.


Falando em explosivo, em outubro recebi uma bomba: meu livro inédito, Ponto Morto, havia ganhado o edital de literatura da Secult 2009 na categoria romance. Duas coisas aqui: a primeira é que consegui a grana para pagar a festa de aniversário da minha filha; a segunda, não tão surpreendente quanto pagar algo para a filha com literatura, é que saí da dramaturgia em direção à prosa longa em 30 dias. Algumas pessoas saberão exatamente do que estou dizendo.


2009 passou. E eu sigo, ouvindo meu Sampaio, lendo meu Carlinhos Oliveira, bebendo no Cochicho, pegando estrada... Sendo pai, marido e mordomo de gato (O Cruel apareceu em 2009 também). É assim mesmo que tem que ser. Que venha 2010.

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2 de nov. de 2009

Cárcere - Lançamento do livro


A Edições Cousa acaba de lançar a dramaturgia de Cárcere em livro, foi no Teatro Municipal de Vila Velha, logo após a apresentação da peça dentro da programação da Circulação Cultural Secult 2009.

O jornalista Marcelo Pereira, do Caderno 2 de A Gazeta, fez uma matéria bem legal no dia do lançamento. Para conferir na versão digital é só clicar no link:

Peça sobre liberdade ganha edição em livro


Cárcere agora vai para Barra de São Francisco (06/11) e Nova Venécia (07/11). Depois desembarca no Rio de Janeiro. O livrinho vai junto, tá sendo vendido a apenas 15 reais.

Sobre a editora:

ediçõesCousa é um selo editorial desenvolvido por Rodrigo Caldeira e Saulo Ribeiro para produção e edição de livros de textos inéditos ou apenas publicados na internet, assim como de reedições de livros que por um motivo ou outro limitaram-se à 1ª edição. Iniciamos em outubro de 2009 com a publicação do texto teatral Cárcere. Preparamos para 2010 a reedição dos dois livros de contos Trabalhadores de domingo e Essas moças que me causas vertigem de Vinícius Piedade e a produção e edição do livro O óvulo e o ovo, tudo de novo de Cleibson Freitas, contemplado pela Lei de incentivo à Cultura João Bananeira do município de Cariacica-ES.

http://edicoescousa.wordpress.com/


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22 de out. de 2009

Ponto Morto e Pancas

Ponto Morto, meu romance inédito, acaba de ser premiado pelo edital de literatura da Secult. Bacana ver ali também nomes de pessoas queridas: Anne Ventura (conto) e Lino Machado (poesia).

Gazeta
Literatura - Secult publica resultado do edital


E mudando de assunto, Cárcere vai estar em Pancas neste final de semana, sábado, 24, no Centro Cultural, às 20h. Pego estrada sábado cedinho com Vinícius e Overlan. Adriana sai amanhã cedo para deixar tudo pronto. Nieve não vai dessa vez, é que ela tá terminando a moqueca de peroá e caramuru:
http://umasagadailha.blogspot.com/

Fico por aqui. Até!

11 de out. de 2009

Cárcere on the road

Cárcere na estrada... Acesse blog com a tourné capixaba:

carcerenaestrada.blogspot.com/




28 de set. de 2009

Um pacifista

Não irei meter a mão em sua cara, Loulu. Sou um pacifista, porra. Um pacifista grosso, sem paciência, mas um pacifista. Pode acreditar, Loulu. Pois veja, éramos dois pelo preço de um, ou menos, a vagabundear pela noite ao som de Tom - Waits ou Zé. Era lá que achávamos gente insípida que nos fazia sentir melhores. Era lá que eu usava meu papo de pacifista quando o cara era mais parrudo que eu. E agora eu uso o mesmo papo, Loulu. É que não quero te meter a mão, muito embora deva e sei que me arrependerei por esta omissão.


Eu me lembro, Loulou, de tardes enfadonhas em que subimos as montanhas tentando fugir do tédio ilhéu... Me deixa falar disso, Loulou. Eu gosto de repetir as mesmas histórias... Numa dessas tardes, eu dizia, tenho na cabeça como um filme em que volto e avanço, ora assisto em câmera lenta, e pauso fotografias, nítido, realista, eu tenho na cabeça, Loulu, você com um lenço ridículo na cabeça e óculos gigantescos, catando entre repolho cozido pedaços de salsicha. Eu me lembro de ter comentado sobre a pobreza culinária dos germânicos. Eu disse:


“Povinho mais sem imaginação para comida, gastaram tudo em filosofia e artes”.


“Não é tão grave”, você falou. Fez uma pausa, mastigou um pedaço de salsicha e continuou: “Alguns deles fizeram muito pior. Construíram infernos verdadeiros para olhos vivos. Mataram gente como se mata frango, os granjeiros do mal”.


Eu olhei para o joelho de porco no meu prato e pensei em infernos para olhos vivos, além de estômagos.


Não, não sou de reclamar do que como, você sabe. Em 1998 eu era um rapaz de mochila nas costas em uma rodoviária de interior. O dinheiro que tinha no bolso para começar a vida na capital mal pagaria o prato que comemos naquela tarde. Já te disse, Loulou, mil vezes ou mais, eu sei avaliar a hierarquia qualitativa dos sofrimentos e tenho uma porção de quebra-galhos espirituais, transcendentes... Eu me tornei outro homem depois de Tagore, Loulu.


Não, não insista para ir embora. Eu só deixo você sair depois de ouvir tudo. Não, não troco tudo por algumas pancadas. O que são hematomas? E se depois você sair daqui e me denunciar na delegacia da mulher? Lei Maria da Penha, essas coisas... Não. Fique e ouça Loulou, não sou trouxa... Pare loulou, PARE... É, vai ser assim, sai e te meto chumbo. Bonita, né? Comprei semana passada, não sou um pacifista ortodoxo. É uma pistola .40. Dizem que a gente só ouve o barulho do tiro quando acerta o alvo. Não sei se é verdade. Será que eu só ouvirei o barulho quando você não estiver mais entre nós, Loulu?


Isso. Senta, se acalma. Agora me ouve, Loulou. Nunca, nunca mais, tá entendendo, nunca mais chute meu gato. Nem deixe a garrafa de café aberta. Por favor, nada de calcinhas no registro do chuveiro, nada de pontas de cigarro e cinzeiro sujo perto dos meus temperos. E sobretudo, Loulou: Não fale mau do dinheiro que gasto no meu carro. Não me peça para escolher nada quando eu quiser o que a vida oferece sem me pedir para pensar... Tem, tem mais. Me deixe contar minhas histórias antigas e se divirta com elas. E me ame, sempre. Estamos entendidos, Loulou? Agora me beija. Eu te amo.

15 de set. de 2009

Homem gordo de saco cheio


Sou um homem gordo. Isso não é o problema. O problema é que tenho uma irmã endocrinologista.

Uma endocrinologista não suporta ter irmão gordo... Marketing negativo, eu acho.


Essa semana ela me acusou de ser grau 2 chegando à morbidade. Não parou nesta delicadeza. Tem dito que minhas múltiplas comorbidades tem impacto negativo em minha qualidade de vida - bem, sempre achei que qualidade de vida é um conceito inventado para vender alguma coisa, de microondas a carro.

Displidêmico, ela xingou hoje pela manhã. Versando-me no assunto dia-a-dia, respondi na lata que meu perfil antropométrico é problema meu.

Acabo emagrecendo pelo cansaço um dia, porra, juro. Outro desabafo: noto que minha irmã aprendeu a xingar com uma classe que nunca sonhei ter.

13 de set. de 2009

Curtinhas da semana

1

Gatos são seres noturnos, que dormem enquanto existe a luz do dia e perambulam pela casa até o nascer do sol.

Bem, alguém precisa avisar isso para Cruel, o bichano aqui de casa, que dorme nos dois turnos, profundamente.

2

E Maria falou a José que teria um filho concebido pelo poder do Espírito Santo. José exclamou: “Putz, vai nascer um capixaba!”.

3

Perguntaram se eu sou sempre tão preguiçoso. Não sou. Contemplativo, talvez.

4

“Este problema só pode ser resolvido pelo suporte online, senhor”
“Mas eu não consigo conectar, é esse o problema!”
“Sinto muito, senhor, apenas pelo suporte online”
“Mas como entro em contato online se minha internet não conecta?”
“Sinto muito, senhor, apenas pelo suporte online”

5

Ironia, ritmo, prazer, não, não é sexo... É A febre amorosa, romance de Eustáquio Gomes editado pela Geração Editorial. A trama é ambientada na Campinas dos barões do café em meio a uma epidemia de febre amarela. O ano é 1889, a monarquia brasileira indo pra vala. Não bastasse, o livro é abastado em excessos da alma... Vale a pena.
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4 de set. de 2009

Matéria no site da ABD

O curta 2 e 1/2 mudou de nome. E nem é definitivo ainda. Por enquanto segue sendo 2500.

Saiu uma matéria bacana no site da ABD.

Eis o link:

Nó em pingo d'água


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22 de ago. de 2009

2 e 1/2

Hernane é mecânico de elevadores e está acostumado aos altos e baixos, à vertigem. Mas o que tem acontecido com ele é demais: o carro de trabalho roubado, um cunhado na corda bamba e uma esposa que joga em seus ombros o peso do mundo.

Hernane precisa do carro de volta, a única forma de resolver tudo. E ele segue, resoluto, na busca do veículo, no firme propósito de ter paz. Mas para isso precisa da ajuda do primo da mulher, o malandro Pasolini, vulgo Pasola; e do Gordo, obscuro empresário do ramo de sucata.

Esta é a base do roteiro escrito por mim e Alexandre Serafini para o filme 2 e 1/2, que está sendo rodado neste final de semana, com locações em Vitória, Vila Velha e Cariacica.

O filme tem uma puta equipe de realização que inclui, entre outros, Ana Cristina Murta, Ursula Dart e Rosana Paste. A direção é do Alexandre Serafini.
No elenco Otoniel Cibien, Higor Campagnaro, Vanessa Biffon, Waltair de Souza Jr e Márcio Miranda.













Otoniel Cibien (Hernane)
e Higor Campagnaro
(Júlio)

13 de ago. de 2009

trecho da peça Cárcere

No dia em que Dente questionou se eu tinha coragem de matar, eu falei que não era legal ficar pensando em matar, era melhor pensar em ficar vivo, viver... Mas daí ele argumentou que se eu começasse a matar meus inimigos, eu poderia fazer meu grupo de apoio aqui dentro, pois aqueles caras também tinham inimigos. Eu considerei as coisas. Depois desabafei, disse que pensar em morrer naquele lugar chegava a dar uma sensação de alívio de vez em quando... eu me sinto um pouco morto aqui. Eles fazem de tudo pra gente se sentir meio morto aqui. Eles racionam minha água, para que eu não possa tomar banho, escovar os dentes, pra eu viver como um animal... eles fazem isso. Eles cortam a minha luz pra eu me sentir um bicho no escuro, enjaulado. Eles cuidam para que eu me torne um número, um nada. Eles sacaneiam minha comida, botam bicho nela, pra que eu me sinta um bicho comendo comida com bicho... melhor o bicho, tem vez que tem gilete... quem sai daqui vivo sai bicho. É outra noite. Ela vai embora e mais uma vez eu não dormi. É madrugada e eu queria tocar meu piano. Queria cantar meu canto... mesmo baixinho, se eu cantar alto eu me ferro amanhã. Eu já tou jurado de morte, se eu acordar os bicho, aí que eu me ferro mesmo. Falando em cantar, eu já sei o que vou cantar quando sair daqui... sabe aquela música?... aquela?... do... do... aquela?... Como é mesmo o começo?... Peraí... não... não lembro. Só me resta recordar as melodias de Monk... ah, falando em Monk eu lembro de uma coisa legal do Dente ter ido embora. Ele não gostava de Monk. Eu dizia pra ele que era o som da liberdade, de um povo lutando contra a opressão... Certa vez ele virou pra mim e falou: Ô Ovo, que foi? Cozinhô a gema? Tá muito calor aqui, acho mesmo é que queimô a gema’ Eu fiquei puto, na lata respondi: Cê quer saber, cara? Monk é meu herói! Ele foi direto: É... Mas quem espera por herói vai se fuder sentado’ Dente tinha razão. Aqui dentro não tinha como esperar por herói. Eu tinha que ser meu próprio herói. Um herói equilibrista, caminhando no delicado fio de expectativa, vida. Sair daqui ileso. Vivo... Vivo... Assim amanhece o dia, mais uma vez contemplo a cara dos outros presos e eles parecem saber que a rebelião é certa e que estou no cu da cobra pagando penitência.


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A peça Cárcere acaba de ser contemplada com o prêmio de circulação de espetáculo teatrais do governo capixaba. Ainda este ano faremos a peça am seis cidades do Espírito Santo.

2 de ago. de 2009

Fernando Arrabal



P - Por que todos ficaram encantados quando o prefeito de Veneza apresentou o senhor, durante a Bienal, em junho, como "o dramaturgo vivo mais célebre do globo"?


R - Porque ninguém conhece sequer o nome de um dramaturgo. Todos ficariam igualmente encantados se eu fosse apresentado como "o melhor tigre de Bengala vivo".

***

Trecho de entrevista concedida pelo desterrado Fernando Arrabal, que está no Brasil para uma série de eventos onde realiza provocações com classe e estilo.


O escritor Wilson Coelho, Auditor Real da Escola de Patafísica de Paris e representante de Arrabal no Brasil, repassou o link da entrevista por email. Vale a pena ler na íntegra.

clique aqui: http://www.cruzeirodosul.inf.br/materia.phl?editoria=42&id=206918

24 de jul. de 2009

Caniço

Caniço emborcava um copo de cerveja gelada na manhã ensolarada de sábado e apontava a Ipanema 1991. O gole desceu e ele disse:

- 6 paus.

Dei uma geral no carro de novo, só de olho. Tinha testado antes sem encontrar nenhum defeito aparente. Mas temi os vícios redibitórios, a vida tá cheia deles.

- E quanto eu vou gastar nela? – Perguntei.
- Aí é contigo.
- Não... Sério, Caniço. Qual a merda? Quanto vou ter que gastar para rodar com ela uns três meses? Sinceridade.
- A grana da gasolina, porra.

O garçon trouxe um jiló e um Fernet. Caniço meteu o jiló na boca, mastigou e me olhou esperando reação.

- Garantia de motor e caixa? – Perguntei.
- Tudo novinho – Ele mastigava e falava ao mesmo tempo . – Viu a pneuzada zerada?
- É recauchutado, Caniço.
- Mas recapado mês passado.

- Te pago 5.
- Aí tu me quebra.
- 5 paus... 2 e meio agora e 2 e meio com 30.

Caniço pensou... brincou com o copo meio vazio, encheu de novo e falou:

- Leva, guri. Tou vendendo assim porque é contigo.

Daí ligou pro Piriquito, despachante da confiança de nós dois.

- Aqui no Fino, em meia hora – Caniço ao telefone.

Piriquito chegou na quarta cerveja.

Entreguei 2 e meio em dinheiro e fiz um cheque pré-datado sem previsão de fundos, certo, bem certo de que estava sendo enganado.

13 de jul. de 2009

"Amiga do lobo"



Luíza, minha filha, foi ao teatro pela primeira vez ontem. Anelise, priminha dela, foi junto.

A peça era Chapeuzinho Vermelho na versão dos Campaneli. Luíza nem fez um ano ainda, mas vibrou a peça toda, queria sair do meu colo e subir no palco, um perigo.

Anelise, de três anos, também gostou, mas chorou muito com o convincente Lobo Mau vivido por Rodrigo Campaneli.

Terminando a peça ela se acalmou. Todas crianças querendo tirar foto, Luíza no meu colo, e Anelise quietinha no canto dela.

- Então, Anelise. Vão tirar uma foto com o pessoal?

Ela balançou a cabecinha dizendo não. Insisti.

- Não, tio.

- É por causa do Lobo Mau?

Ela olhou no meu olho e balançou a cabecinha dizendo que sim.

- E se eu descolar uma conversa reservada tua com a Chapeuzinho, só ela, sem o Lobo?

Ela fez que não. Fiquei curioso. Perguntei o motivo.

- Ela virou amiga dele, tio.

Olhei, Chapeuzinho do lado do Lobo Mal para tirar foto.
Fazia sentido.

11 de jul. de 2009

Cárcere no Theatro Carlos Gomes


Theatro Carlos Gomes, dias 18 e 19 de julho, às 20h.
Ingressos: R$20,00, inteira; R$ 10,00, meia.



O solo conta a história de um pianista autodidata que tenta ganhar a vida tocando seu piano-jazz nos bares da cidade. Sua inspiração é Thelonious Monk. Mas viver de sua arte é complicado. E ele tenta, tenta e tenta, chegando a tocar de domingo a domingo. Vendo que ele tem contato com muita gente em muitos bares, um conhecido lhe oferece um bico pra ajudar na sua renda ao menos enquanto o trabalho com piano não lhe sustenta. Ele topa. Mas antes que consiga viver da sua arte, acaba preso por tráfico de drogas em flagrante.

Na cadeia o pianista ganha o apelido de Ovo, e por não pertencer a nenhuma facção, os outros presos o ameaçam. A direção do presídio isola Ovo na ala do Seguro, e apóia alguns de seus projetos, na esperança de vendê-lo futuramente para a imprensa como “marginal recuperado pelo sistema prisional”. Isso só aumenta o ódio dos presos, mas Ovo não se preocupa, pois está no Seguro. Somente uma rebelião na cadeia faria os outros presos invadirem a sua ala.


Ele passa os dias na esperança de voltar a respirar o ar da liberdade e tocar seu piano. Até o dia em que descobre a iminência de uma rebelião. É aqui que começa a peça
Cárcere
. O presidiário/pianista Ovo passa a viver em ritmo de contagem regressiva para o abismo e suas expectativas, impressões, reflexões e sensações são expressadas num diário que o ator leva para o palco.

***

Cárcere, Solo de Vinícius Piedade com texto de Saulo Ribeiro. O cotidiano de um preso em contagem regressiva para uma rebelião em que ele sabe que será refém.

Theatro Carlos Gomes, dias 18 e 19 de julho, às 20h. Ingressos no local: R$ 20,00, inteira; e R$ 10,00, meia. Produção local a cargo de Adriana Sipolatti (27- 81291283).



5 de jul. de 2009

New Paris City é uma festa



Assisti Boulevard 83, musical do Grupo Teatro Empório, num domingo de chuva fina e indecisa. Apesar disso o Teatro do Sesi estava lotado. Hoje, outro domingo, desta vez de chuva decidida e grossa, resolvi escrever a respeito.

Antes de tudo um adentro: detesto musicais. Considerando o nome do espetáculo e a sinopse jamais veria. Mas tinha o dedo do
Empório. Fui. Saí de lá com uma grande exceção ao primeiro dito: adorei.

Tudo começa quando um cabaré mergulhado em dívidas ameaça fechar. Sua trupe de artistas se mobiliza em um último show em que apostam todas as fichas para arrecadar dinheiro e salvar o lugar, capitaneados pelo malandro pós-decadentista
Zac Hemingwai. O Boulevard 83, nome da casa, de acordo com o que nos diz a encenação, é o único lugar onde não há prostituição em todas os cabarés de New Paris City. Nisso, perdão, não me convenceram. Mas, por outra, faz parte do show, de uma época em que as primas disfarçavam sua meretrice nas artes. Hoje, pena, todas são todas eternas universitárias. Reside aí uma sutil ironia da encenação, mente-se tão bem que isto se torna um dos sustentáculos do espetáculo.


O musical

Neste ponto, o da ingenuidade dos personagens num mundo tão torpe e cheio de mafiosos e gangsteres, o musical se filia ao modelo leve e despretensioso de algumas produções da
Broadway (não todas, frise-se), tendo como maior objetivo, pena que com recursos financeiros infinitamente menores, o entretenimento do público numa produção bem cuidada e de qualidade. Apesar da linha ser esta, o experimentalismo com outras estéticas tornam tênue a sua classificação apenas como um musical e enriquecem a encenação. Esta é, em suma, a proposta executada magistralmente pelo grupo.

Dandismos e decandentismo

A peça agrada em cheio nos diálogos estéticos que produz. O universo de prazeres dos personagens, o falar cotidiano vários graus acima do natural, e sua certeza de que os tempos estão perdidos e que só resta o cabaré, e depois dele nada mais fará sentido, tudo isso faz paralelo com certo decadentismo tardio, produto do final século XIX, de qual Paris, um dos cenários inspiradores da produção, foi a receptora e difusora para o mundo.

No cenário e figurinos, um certo olhar sobre o dandismo, também tardio. A mentira como recurso permanente resultando na pureza dos mais desprezíveis homens noturnos. É justamente aí que o discurso antiprostituição desaba. As mulheres da peça, salvo quando cedem a pieguismos intrínsecos a certos tipos de musicais, são aquilo que o poeta
Baudelaire defendeu quando disse que a mulher deve parecer mágica e sobrenatural, deve transformar-se em ídolo e colher de todas as artes os meios de elevar-se acima da natureza.

Forma e formato

A encenação é construída sobre um único espaço cênico, modificado de acordo com elementos de cena conduzidos pelos próprios atores ou sob cuidados de dois versáteis
mordomos-garçons-coringas que produzem eficiente solução cênica e beleza. A iluminação é perfeita e traduz todo clima deslumbrante de Cabaré quando necessário, respeitando as nuances inerentes à decadência presente.

Sobre a música tenho pouco a dizer, pois sou aquilo que chamam de “analfabeto musical”. Mas sinto harmonia e sintonia com a proposta de direção e concepção visual. A trilha executada ao vivo no piano de
Elenísio Rodrigues nos transporta efetivamente para New Paris City, universo construído pelo Empório.

Os atores dão conta do recado, recado dificílimo de se transmitir, aliás. Cantam, dançam e representam de verdade. De verdade mesmo. Daria para citar todos, mas destaco aqui
Nívia Carla, no papel de Joe, a dona do cabaré.

Dramaturgia

O texto possui uma certa falha na resolução dos conflitos que ocorrem no segundo ato, fragilizando um pouco o esqueleto dramatúrgico, coisa que em nada prejudica a sua qualidade, pois os diálogos são inteligentíssimos e muito bem posicionados.

Incomoda a grande quantidade de cacos, a peça não precisa deles. Porém, em casa cheia e platéia receptiva permitem-se certos pecados em nome do público.

Fini

À guisa de término do texto, afirmo que
Boulevard 83 está entre os melhores trabalhos que estrearam no estado nos últimos anos. A coerência entre o proposto e o realizado resultam num trabalho sério e de muita qualidade, merecedor de longa temporada e grandes platéias. O elenco do Empório consolida-se como exemplo da maturidade e gênio de uma nova geração no teatro capixaba.



Mais:

Elenco: Allan Toni, Dayanne Lopes, Danielle Pansini, Diego Carneiro,
Josimar Teixeira, Kalina Aguiar, Leandro Bacellar, Luana Eva, Luciene Camargo, Ludmila
Porto, Mell Nascimento, Marcos Luppi, Nívia Carla, Stace Mayka e Werlesson
Grassi.

Dramaturgia, encenação e espaço cênico : Leandro Bacellar
Direção musical e composição: Elenísio Rodrigues
Composições musicais: Elenísio Rodrigues e Leandro Bacellar
Direção de produção: Luana Eva
Direção de arte: Kênia Lyra
Coreografias: Tadeu Schneider
Preparação de canto: Patrick do Val
Iluminação: Thiago Sales - Overlan Marques
Figurino: Samira Alcântara e Luana Eva
Produção fotográfica: Jove Fagundes
Orientador dança de salão: Teresa Loofredo
Pianista: Elenísio Rodrigues

Duração: 120 minutos
Classificação: 16 anos

Datas previstas para as próximas apresentações:
Colatina: Teatro Marista, dias 11 e 12 de julho, às 19h30.
Cachoeiro de Itapemirim: Teatro Rubem Braga, dias 25 e 26 de julho, às 19h30.

Os locais e horários desta temporada pode no site do grupo:
http://www.teatroemporio.com

28 de jun. de 2009

A farsa do advogado Pathelin



A ilutração acima representa o juiz e as partes na peça
A farsa do advogado Pathelin, texto anônimo do século XVI que critica a burguesia ascendente e a justiça.

Séculos depois, não deixa de puxar uma reflexão sobre o judiciário atual.

A farsa, em tradução de
Luiz Hasselmann, pode ser lida no site Arcádia:

É SÓ CLICAR AQUI

Eu montei com alunos do curso de Letras do CESV em 2006, numa breve e mal-digerida experiência como ator e diretor. Mas o texto vale a pena.

Hoje, pensando na peça e assistindo ao que está acontecendo no Espírito Santo, só tenho a desejar superação e dias melhores, bem como uma reflexão:
O judiciário capixaba, mais do que cego, tem sido autista.

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26 de jun. de 2009

Peroás e Caramurus na mídia

Matéria publicada no Diário de Vitória, em 26/06/09, reproduzida em outros veículos:

Teatro de rua de Vitória terá apoio da Lei Rubem Braga

"A Secretaria Municipal de Cultura de Vitória (Semc), por meio da Lei Rubem Braga, patrocina o projeto "Peroás e Caramurus: uma saga da Ilha", espetáculo teatral de rua. A peça, escrita pelo historiador e dramaturgo Saulo Ribeiro, tem direção de Nieve Mattos. A estreia deve acontecer em outubro."

Para ler matéria integral clique nos links abaixo:

Diário de Vitória

Jornal EShoje
Agência Brasileira de Notícias
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25 de jun. de 2009

Theatro Carlos Gomes - Julho

Cárcere, Solo de Vinícius Piedade com texto de Saulo Ribeiro. O cotidiano de um preso em contagem regressiva para uma rebelião em que ele sabe que será refém.

Dias 18 e 19 de julho, às 20h.

Ingressos no local: R$ 20,00, inteira; e R$ 10,00, meia.

Produção local a cargo de Adriana Sipolatti.







Crônica da razão cômica, Espetáculo do Grupo Vira-Lata de Teatro baseado em texto de Saulo Ribeiro. Um equilibrista é julgado por um tribunal imaginário por transgredir uma lei da física.

Dias 25 (às 20h) e 26 (16h e 18h) de julho.

Ingressos: R$ 10,00, inteira; e R$ 5,00, meia.

Antecipados com o grupo, R$ 5,00.

Contato com a produção: 9802 3313.

21 de jun. de 2009

Uma década perdida, outra em promoção



Dias desses eu me vi plagiado. Textos do Duda Bandit foram parar em página alheia, assinados por um tal Josicley, que, pela foto, eu vi e não recomendo, recende a restolhos de lambaterias arruinadas e apresentações concorridas do Grupo Carrapicho.

No início a fúria. Depois o orgulho. Depois a dúvida. Josicley? Por que logo um Josicley? Tateio aqui a resposta para estas questões.

Bom, no início dos anos 90 pairavam duas certezas no ar: a da década anterior como perdida e a da nova como dando prejuízo. Naqueles dias houve quem pregasse o fim de tudo só para criar um clima novo na festa. Mas mesmo a idéia de fim estava em crise. Daí lembrei de Hermann.

Hermann, numa tarde escaldante de céu sem nuvem, folheava um jornal de língua estranha encostado num rústico balcão de bar, bebia um traçado. Fechou de repente a página, dobrou o jornal, embolou, jogou na lixeira próxima, embocou o copo e depois pensou alto:

Interrrrogaaçom é uma exclomaaaaaçom torrrrta!

Eu, que então contava 15 anos, ouvi o pensamento, pouco entendi e decidi ignorar as palavras. Se as décadas estavam perdidas mesmo por que eu devia me preocupar? Culpa minha não era.

Só que a gente se virou nos 90. Qualquer comerciantezinho mequetrefe sabe que ameaça de crise se combate com liquidação e pagamento a longo prazo hipotecando os ativos. Foi o que fizemos, liquidamos os 80 e refinanciamos os 90 no banco, tudo com pagamento dos juros em suaves parcelas nos 00. É claro que deu merda no controle de estoque.


O produto foi isso aí: Luiz Caldas como ídolo cult, funk como redenção, HIP HOP como panacéia, Léo Jaime ressuscitado, cópias de Renato Russo, Leis de incentivo, letargia, marasmo...





Minha dúvida aplaina-se e ilumina-se exclamadora. Eureka!

Tinha mesmo que ser o Josicley.

Cada época tem o plagiador e plagiado que merece. Dizem que Zola foi plagiado por Eça. Flaubert por Maupassant. Victor Hugo por Alexandre Dumas, pai. Vários por Shakespeare... E nessa história toda sobrou pra mim o Josicley, minha parte no acerto.

(não quero dizer aqui que aceito o plágio, apenas meço a hierarquia qualitativa dos infernos ou, em bom português, “podia ser muito pior”)

Agora, ouvindo água corrente e meus xacras brincando de roda, penso que Josicley acabou por fazer em meu “benefício” o que outros fariam de forma mais dura, isto se eu tivesse obtido sucesso comercial no que realizei ali no meu falecido blog Duda Bandit.

(Nos primórdios, os diabos transacionavam almas nas encruzilhadas, era um comércio lucrativo. Hoje as encruzilhadas estão decadentes. Salvo um ou outro Exu desgarrado, o sonho de todo diabo é ser gestor de Fundo de Cultura ou presidente de uma mega editora - Um ou outro aceitaria também ser diretor de algum departamento de marketing ou revista cultural, nem que seja no céu. Eu penso que nas mega editoras as almas são mais engraçadinhas. A minha então, renderia festinhas e mais festinhas, mas os filhosdaputa não quiseram minha alminha, mesmo em promoção.)

Josi, e aqui eu já me permito uma maior intimidade com o único homem que compreendeu meu talento, extraiu o que escrevi no blog e forjou sua alma. É claro que se eu não tivesse descoberto e gritado no meio do processo ele teria me descartado por completo em nome de sua reprodução. Só que não é diferente do que fazem os outros nessa merda herdada de uma década perdida e outra em promoção. Josi apenas foi mais delicado e silencioso.

Obrigado, Josi.

Mas, mandando ao caralho a porra dos xacras, tinha que sobrar pra mim justo um Josicley's on the road? Oh, deus!



(Uma década perdida, outra em promoção é o subtítulo do meu próximo livro engavetado)