24 de jul. de 2009

Caniço

Caniço emborcava um copo de cerveja gelada na manhã ensolarada de sábado e apontava a Ipanema 1991. O gole desceu e ele disse:

- 6 paus.

Dei uma geral no carro de novo, só de olho. Tinha testado antes sem encontrar nenhum defeito aparente. Mas temi os vícios redibitórios, a vida tá cheia deles.

- E quanto eu vou gastar nela? – Perguntei.
- Aí é contigo.
- Não... Sério, Caniço. Qual a merda? Quanto vou ter que gastar para rodar com ela uns três meses? Sinceridade.
- A grana da gasolina, porra.

O garçon trouxe um jiló e um Fernet. Caniço meteu o jiló na boca, mastigou e me olhou esperando reação.

- Garantia de motor e caixa? – Perguntei.
- Tudo novinho – Ele mastigava e falava ao mesmo tempo . – Viu a pneuzada zerada?
- É recauchutado, Caniço.
- Mas recapado mês passado.

- Te pago 5.
- Aí tu me quebra.
- 5 paus... 2 e meio agora e 2 e meio com 30.

Caniço pensou... brincou com o copo meio vazio, encheu de novo e falou:

- Leva, guri. Tou vendendo assim porque é contigo.

Daí ligou pro Piriquito, despachante da confiança de nós dois.

- Aqui no Fino, em meia hora – Caniço ao telefone.

Piriquito chegou na quarta cerveja.

Entreguei 2 e meio em dinheiro e fiz um cheque pré-datado sem previsão de fundos, certo, bem certo de que estava sendo enganado.

3 comentários:

Anônimo disse...

Interessante, conforme fui lendo, a bruscalidade do narrador personagem é nítida no enredo.
Fiz este blog meu caro, cinismoarcaico.blogspot.com

Até mais,

Paulo Bono disse...

Sou sempre enganado.
Tenho certeza disso.
Quero ser esperto, vivo, conhecedor dos esquemas.
Sou sempre o otário da jogada.

abraço, Saulo.




abraço, Saulo.

Felipe Guasti disse...

Saulo, (risos).... pois é... complicado essa vida de enganado. Compartilho dessa habilidade nem um pouco agradável.
Ótimo conto. O diálogo informal e corriqueiro, a temática. O impensado surpreende o leitor.

abraço, Felipe.

lapisesom.blogspot.com