17 de jun. de 2009

Peça “Cárcere” questiona o real valor da liberdade

Matéria de Tatiana Cavalcanti, publicada no Diário de Guarulhos, sobre Cárcere,que foi encenada na cidade paulista em 12 de junho de 2009. Só um probleminha, o texto diz que sou defensor público, mas não sou. Eu sou um historiador especialista em violência urbana e coordeno os projetos de execução penal da Defensoria Pública do Estado do Espírito Santo. Mas admiro muito o trabalho de todos os defensores públicos que trabalham comigo.


Para ler a crítica no site é só clicar no título:


  • "Peça “Cárcere” questiona o real valor da liberdade"

  • Texto retrata as angústias de um pianista que após ser preso cria um diário na cadeia

    Tatiana Cavalcanti

    Da Redação

    Na célebre obra do escritor Alexandre Dumas, "O Conde de Monte Cristo", Edmond Dantes é preso por um crime que não cometeu. Na prisão, ele se dedica à leitura e análise de milhares de livros, os quais o ajudam a elaborar um plano para escapar do cárcere. O plano dá certo, ele foge e com a cultura adquirida personifica o "Conde de Monte Cristo", pseudônimo criado para se vingar daqueles que o acusaram injustamente.

    Com o mesmo tema, a busca pela liberdade, a peça "Cárcere", um monólogo, ou melhor, um solo interpretado por Vinícius Piedade, fala sobre um pianista autodidata que é preso por tráfico de drogas.

    Divulgação
    REVOLTA Vinícius Piedade interpreta um pianista que é preso por traficar drogas

    No caso dessa personagem, o pianista, ele é realmente culpado pelo crime. Ele passa a ser traficante, por sugestão de amigos, para sobreviver enquanto não consegue se sustentar apenas com a música.

    Na cadeia, recebe o apelido de "Ovo" por ser branco, careca e ter a cabeça oval. A história, escrita pelo defensor público Saulo Ribeiro, começa com uma contagem regressiva de sete dias precedentes de uma rebelião naquele presídio.

    Nesse tempo, o pianista sofre muitas ameaças e os outros presos, numa metáfora ao seu apelido, ameaçam-no dizendo que comerão ovo frito ou cozido.

    Ovo, que está no ápice do desespero, tem na prisão a liberdade religiosa, de time de futebol e política, mas a liberdade de pensamento passa a ser reprimida naquelas condições.

    Num diário, já que não pode tocar piano, Ovo retrata suas expectativas, impressões e sensações.

    "A peça é uma reflexão sobre a liberdade através dos olhos de um homem que é privado da sua: um presidiário. Não há no espetáculo uma resposta a essa questão, senão seria didática, mas faz ela o papel de fazer com que se reflita sobre o assunto. Será que só valorizamos a liberdade quando a perdemos? Aliás, esse conceito é muito mal trabalhado. Hoje, a liberdade é interpretada de forma errônea e é associada a objetos de consumo", fala o ator.

    É a primeira vez que Piedade se apresenta em Guarulhos. "Achava que a peça tinha um vácuo, já que fizemos apresentações do Oiapoque ao Chuí. Tentei trazer a peças várias vezes a Guarulhos e, agora que conseguimos produtores, é um privilégio estrear aqui", afirma.

    Quando questionado sobre o que é liberdade na sua visão, Piedade é enfático. "Liberdade é uma página em branco".

    SERVIÇO
    Cárcere. Apresentação única, dia 12, às 20h30, no Teatro Nelson Rodrigues, Lago dos Patos. Preço: R$ 20 (inteira); R$ 10 (meia). Indicação: 14 anos.






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    Ps.: Bem, e agora um desabafo: a peça estreou em São Paulo e viaja pelo país todo desde então. O único lugar em que empaca para circular é aqui no Espírito Santo. Fiquei sabendo hoje que mais uma vez cancelaram nossa data no Teatro Carlos Gomes. Pois é, tanto se diz que aqui não existe dramaturgo, que textos locais não são montados, mas quando temos um texto circulando, ganhando prêmios em festivais, parece que a ordem é que ele fique longe da terrinha. Juro que não é síndrome de perseguição, juro. Antes penso que é letargia mesmo, desinteresse, sei lá... Tivemos apenas um final de semana no Carlos Gomes no ano passado, e mesmo assim não era a mesma peça. Naquela ocasião foi apresentado H.E.R.ÓI.S., nome dado à união de dois textos: o Indizível, excelente texto de Aline Yasmin; e o Cárcere, nuestro. Cada um era apresentado em um ato. Depois disso as peças foram efetivamente partidas e sofrendo modificações naturais durante o processo, e para melhor. Eu só acompanho por vídeo, pois além de caro, viajar por aí exige um tempo que minha vida proletária não dispõe. É uma pena.

    Um comentário:

    Priscila Milanez disse...

    Poxa, Saulo, que chato isso.Saber, de fato, quais são as peças das engrenagens que movem a cena artística aqui no Estado é uma incógnita.Ou não, né...? Falta de interesse? Ou interesses nebulosos demais em jogo? Vai saber...Com que argumentos justificaram o cancelamento?
    Estava ansiosa pra ve-la aqui tb!