21 de jun. de 2009

Uma década perdida, outra em promoção



Dias desses eu me vi plagiado. Textos do Duda Bandit foram parar em página alheia, assinados por um tal Josicley, que, pela foto, eu vi e não recomendo, recende a restolhos de lambaterias arruinadas e apresentações concorridas do Grupo Carrapicho.

No início a fúria. Depois o orgulho. Depois a dúvida. Josicley? Por que logo um Josicley? Tateio aqui a resposta para estas questões.

Bom, no início dos anos 90 pairavam duas certezas no ar: a da década anterior como perdida e a da nova como dando prejuízo. Naqueles dias houve quem pregasse o fim de tudo só para criar um clima novo na festa. Mas mesmo a idéia de fim estava em crise. Daí lembrei de Hermann.

Hermann, numa tarde escaldante de céu sem nuvem, folheava um jornal de língua estranha encostado num rústico balcão de bar, bebia um traçado. Fechou de repente a página, dobrou o jornal, embolou, jogou na lixeira próxima, embocou o copo e depois pensou alto:

Interrrrogaaçom é uma exclomaaaaaçom torrrrta!

Eu, que então contava 15 anos, ouvi o pensamento, pouco entendi e decidi ignorar as palavras. Se as décadas estavam perdidas mesmo por que eu devia me preocupar? Culpa minha não era.

Só que a gente se virou nos 90. Qualquer comerciantezinho mequetrefe sabe que ameaça de crise se combate com liquidação e pagamento a longo prazo hipotecando os ativos. Foi o que fizemos, liquidamos os 80 e refinanciamos os 90 no banco, tudo com pagamento dos juros em suaves parcelas nos 00. É claro que deu merda no controle de estoque.


O produto foi isso aí: Luiz Caldas como ídolo cult, funk como redenção, HIP HOP como panacéia, Léo Jaime ressuscitado, cópias de Renato Russo, Leis de incentivo, letargia, marasmo...





Minha dúvida aplaina-se e ilumina-se exclamadora. Eureka!

Tinha mesmo que ser o Josicley.

Cada época tem o plagiador e plagiado que merece. Dizem que Zola foi plagiado por Eça. Flaubert por Maupassant. Victor Hugo por Alexandre Dumas, pai. Vários por Shakespeare... E nessa história toda sobrou pra mim o Josicley, minha parte no acerto.

(não quero dizer aqui que aceito o plágio, apenas meço a hierarquia qualitativa dos infernos ou, em bom português, “podia ser muito pior”)

Agora, ouvindo água corrente e meus xacras brincando de roda, penso que Josicley acabou por fazer em meu “benefício” o que outros fariam de forma mais dura, isto se eu tivesse obtido sucesso comercial no que realizei ali no meu falecido blog Duda Bandit.

(Nos primórdios, os diabos transacionavam almas nas encruzilhadas, era um comércio lucrativo. Hoje as encruzilhadas estão decadentes. Salvo um ou outro Exu desgarrado, o sonho de todo diabo é ser gestor de Fundo de Cultura ou presidente de uma mega editora - Um ou outro aceitaria também ser diretor de algum departamento de marketing ou revista cultural, nem que seja no céu. Eu penso que nas mega editoras as almas são mais engraçadinhas. A minha então, renderia festinhas e mais festinhas, mas os filhosdaputa não quiseram minha alminha, mesmo em promoção.)

Josi, e aqui eu já me permito uma maior intimidade com o único homem que compreendeu meu talento, extraiu o que escrevi no blog e forjou sua alma. É claro que se eu não tivesse descoberto e gritado no meio do processo ele teria me descartado por completo em nome de sua reprodução. Só que não é diferente do que fazem os outros nessa merda herdada de uma década perdida e outra em promoção. Josi apenas foi mais delicado e silencioso.

Obrigado, Josi.

Mas, mandando ao caralho a porra dos xacras, tinha que sobrar pra mim justo um Josicley's on the road? Oh, deus!



(Uma década perdida, outra em promoção é o subtítulo do meu próximo livro engavetado)

4 comentários:

Priscila Milanez disse...

Putz...Josicley"! Que merda!!

Anônimo disse...

Não sabia que você tinha blog.
Muito bom.
Josicley! Esse nome gruda.

Leonardo Prata disse...

O Duda Bandit, aquele Henri Chinaski dos trópicos merece todo tipo de canalhice. Veja bem Saulo, você nunca incentivou o bom comportamento com aquele canalhocrata.

Paulo Bono disse...

Filho da puta. Imbecil.
Pobre diabo de merda.

abraço, velho Saulo.